domingo, 26 de diciembre de 2010

En Asseiceira, leyendo sobre la vida y obra de Paul Gauguin (Luís Filipe Parrado)

EN ASSEICEIRA, LEYENDO SOBRE LA VIDA Y LA OBRA DE PAUL GAUGUIN
(POR LUÍS FILIPE PARRADO)

La luz de finales de agosto cae sobre
la terraza de esta casa de provincias
donde leo que

el pintor Paul Gauguin
eludió las obligaciones familiares
abandonando mujer e hijos

para poder viajar por los Mares del Sur
y “perseguir su arte”.
Tras leer estas palabras

levanto los ojos de la página 57
y diviso frente a mí
una bandada de cuervos posados

en los gruesos cables de la luz,
la llanura del cielo, el campo de maíz
más extenso de los alrededores

donde se esconden mis hijos
uno del otro, y los dos de mí.
Para Gauguin, volviendo a la lectura,

la llamada de la creación,
el profundo amor por la pintura
hablaron más alto y más claro que la prosaica

existencia pequeño-burguesa
de la segunda mitad del Ochocientos,
motivo que lo condujo al rechazo

“de los deberes convencionales
con la familia”,
abandonada definitivamente.

Pero, subrayando algunas frases,
no me queda muy claro
si el pintor hizo lo “que sintió

que tenía que hacer para atender
a su más alto grado de excelencia personal”
y, de este modo, legar a los hombres

“el fruto de su arte”
(como argumentan Shai Biderman
& Eliana Jacobowitz)

o si, más desesperadamente
de lo que pueda parecer,
la pintura fue la tabla de salvación,

el último recurso para la huida
del pantano (otros dirán del infierno)
de la vida conyugal, en Copenhague,

con Mette Sophie Gad y los cinco niños.
En cuanto a mí,
me gustaría despejar la duda

y proseguir la lectura,
en el encanto, en la provincia,
mientras el sol de finales de agosto se apaga

por detrás del tejado de la casa
y la noche va extendiendo un viento frío
que vuelve casi imposible

el acto de leer.
Casi a oscuras
me quedan los gritos de los hijos,

lejanos,
y la voz de mi mujer anunciando
que es preciso poner la mesa para cenar.

Por eso,
porque no estamos en Tahití
ni en el siglo XIX

ni soy el famoso pintor primitivo
y moderno Paul Gauguin,
marco la página, cierro el libro

y me levanto
para ocuparme de los platos y los cubiertos.
El poema, disculpen, tiene que detenerse aquí.



[Versión al castellano: Jesús Jiménez Domínguez]

viernes, 24 de diciembre de 2010

Isla de Siltolá, 3


Gracias a la amable invitación de la poeta Olga Bernad, tengo el placer de colaborar en este número 3 de la sevillana revista de poesía "Isla de Siltolá" con dos poemas inéditos.

En la revista también encontramos colaboraciones e inéditos de María Victoria Atencia, Luis Alberto de Cuenca, Fernando Iwasaki, Carmelo Guillén Acosta, Elías Moro, Pedro Sevilla, Inmaculada Moreno, Mercedes Escolano, Antonio Rivero Taravillo, Olga Bernad, Juan Manuel Macías, Cristián Gómez Olivares, Corina Dávalos, Rocío Arana, Ignacio Escuín. Y críticas y reseñas de José Luna Borge, Elena Almeda, Rafael Adolfo Téllez, Juan Manuel Macías, José María Jurado, Tomás Rodríguez Reyes y Julio Ariza.

jueves, 23 de diciembre de 2010

Christmas in Adventury Parks

GET WELL SOON - Christmas in Adventury Parks

Con tantas comidas y cenas, cenas y comidas estos días, creo sinceramente que hemos olvidado el verdadero significado de la Navidad: el nacimiento de Santa Claus. Felices Fiestas.

martes, 21 de diciembre de 2010

Cita con Theodor Fontane


"Los libros tienen su orgullo: cuando se prestan, no vuelven nunca."

sábado, 18 de diciembre de 2010

La excusa de los días



El próximo jueves, 23 de diciembre, a las 20:00 horas, estaremos Fernando Frisa y yo (además de la propia autora Marta Fuembuena, claro) presentando el libro La excusa de los días (Col. Resurrección) en el foro de FNAC de Zaragoza. La excusa de los días se llevó el premio de poesía que convocó el año pasado el bar Candy Warhol. Mis felicitaciones para Marta. Nos vemos allí.


lunes, 13 de diciembre de 2010

La revista Criatura, nº 5, según Hugo Pinto Santos


O mais recente número da revista Criatura revela-se o seu maior conseguimento até à data. Reúne um núcleo fortemente significativo de poetas, que formam um friso amplo e importante da poesia actual. Contou com a colaboração de nomes como António Barahona – «Agora já posso dizer/ o som em carne viva» (p.11) –, numa poesia que revela a arte de um «procurador/ extintor de sono» (p.14) –; Jaime Rocha – «Uma velha sentada/ num banco de madeira sorri como/ se bebesse veneno por uma palha.» (p.67) –, um contributo marcado por um impressivo fulgor imagético, assinalável força metafórica – «A cidade acorda como sempre/ debaixo de um suor agitado./ As formigas invadem os restos/ de fruta e as baratas iniciam o/ seu ciclo instável.» (p.71) –; ou Rui Caeiro – «E se por acaso quiseres beber, tens/ não direi toda a terra pois tudo/ aquilo que nela há é escasso» (p.127).

Merecem lugar de destaque os poemas de David Teles Pereira – «As nossas leis não chegam para acalmar todos os vícios/ e o pior de todos é chorar-te» (p.19) – e Diogo Vaz Pinto – «Quer dizer que abro cortes na ponta/ dos dedos, mergulho-os como isco/ no escuro, e aguardo.» (p.48) –, que se afirmam hoje como autores de alguma da poesia mais relevante e que mais interessa da actualidade. Uma poesia que, na melhor tradição, deixou todos os tronos, qualquer verborreia, e está mais próxima do sangue – «Mas a poesia, mes chers, não salva, não brilha, só caça.» (Golgona Anghel) (p.63) –, acolhe os mais ínfimos filamentos da vida – «Toda esta poesia que nunca cabe num poema.» (Roger Wolfe) (p.l17), que não se enamora do «pus das imagens» (p.43) (DVP). Uma poesia que se dessacralizou, mas em que são, com desvelo, mensurados, pesados, escandidos, os seus materiais, palavra e som – «A poesia é o menos. Serve/ se der com o ritmo» (p.45) (DVP). No entanto, está perdida, neles, para sempre, qualquer possibilidade de valia descontextualizada, no ar – «Os poemas?/ Alguns funcionam,/ outros não./ Se o que queres/ é uma garantia, então compra um televisor.» (p.115) (RW) Trabalho do poeta, «constatar o óbvio» (RW) (124). Fazê-lo, porém, com um investimento linguístico, literário, e de si, que o isente da banalidade – «Há corpos que buscam as luzes dos bares/ nas cidades de passagem como as traças nocturnas/ buscam a bugia do último coração aceso.» (Jesús Jiménez Domínguez) (p.85) Entende-se, nestes versos, a possibilidade de, na nossa passagem por aqui, dizer o que o próprio viver cala – «Viver é outra coisa:/ deixas a gaveta fechada/ e arrancas tudo/ com unhas e dentes,/ o sabor amargo da casca,/ de tão doce,/ não o esqueces.» (Luís Filipe Parrado) (p.89) A poesia, enfim, como possibilidade de criar um espaço onde ele escasseia, um fluxo de dizeres onde se erguem, calados, todos os muros – «A imaginação é a melhor bebida, a água/ do mescal e o mescal da água, urgente, in-/ adiável» (Miguel Martins) (p.107).

Uma das virtualidades desta publicação estará, porventura, na riqueza que lhe advém da disparidade de estilos, da variedade de registos – «não um poeta/quando mais são mais/ dezenas insolentemente/ passando fogo» (p.153). Num cruzamento de planos em que estão em causa vectores aparentemente desavindos, obtêm abrigo seguro as palavras – «as formas de conhecer-te são só duas/ ou três; esta é a que demora mais tempo./ a chuva parou e continuamos distraídos neste/ amor de cabotagem» (p.149) (Tiago Araújo). Como é, ainda, possível encontrar num metaforismo bem calibrado um verso seguro, de tom claramente peculiar – «A carne da tua visão será o labirinto das paredes do teu quarto/ Abertas sobre o tempo/ Em exaustão/ Estranharás as camadas de cal a cobrirem o corpo lúcido do pátio/ O teu mundo será uma cesta de frutos na maturidade das raízes.» (p.139) (Rui Pedro Gonçalves) É possível encontrar, num uso mais escasso, mais visceral, da metáfora e da acção do tropo, um terreno interessante – «E assim, cada coisa é uma hemorragia, cada coisa está fora/ de cada coisa, é todas as outras menos ela mesma.» (p.83) (Jesús Jiménez Domínguez) Numa abordagem destemida da narrativa que é, ao mesmo tempo, depara-se com um modo de revolver as estruturas típicas da história, através da elipse, das suspensões, das inflexões do sentido – «Estava quase a nevar. O radiador, a roupa, as canecas/ e as colheres com cheiro a mel e leite azedo,/ tudo deixado a um canto, à espera de arrumação,/ tal e qual os dias.» (p.21) (DTP) Uma via em que o relato é viabilizado e sabotado pela poesia, que a torna, a um tempo, mais sintético e mais imponderável – «O verão regressa lembrado apenas/ das repetições mais inúteis. O ar/ brinca com a luz, levanta-a ainda/ nos ombros. Em bando e à velocidade/ do grito que queimou esses caminhos/ quase a pique, parecíamos mais.» (p.33) (DVP)

Aqui se revela uma poesia desconfiada do lirismo – «só poemas,/ traições assim, bem delicadas.» (DVP) (p.40) – e do cânone – «Não quero que me façam nenhuma análise do poema.» (GA) (p.63) –; uma poesia que não alimenta brumas, sublimes, outras falhas – «Por aqui se compreende,/ obliterada poética,/ que a poesia não se escreve todos os dias/ se há despesas a liquidar» (LFP) (p.90). Sem literatismo, com um desprendimento que será tudo menos desapego que ignore – «Mas nesse rasgo de luz logo regressa a abominação/ do costume, e tu sentes o gelo dos sonhos,/ a ferrugem dos livros cheios de saliva, o asco/ e a suspeita pregados com chumbo ao peitoril/ dos teus olhos negros que não compreenderão/ jamais como, alguma vez, pudeste escrever/ a palavra vida a seguir à palavra sentido.» (L.F.P.) (p.93) – há uma atitude poética livre de servilismos, da sarna da idolatria – «murchas prateleiras/ de uma biblioteca rançosa» (RW) (p.114). Em inspirada nota final se lê que «a poesia antes de tudo/ é um feroz instinto» (p.151).

Hugo Pinto Santos
Versão aumentada da crítica publicada no suplemento do Expresso, Atual, 11.12.2010